12 FEV 09     19:45H ........................................................................

 

PAULO FREIRE DE ALMEIDA  

LIÇÃO DE DESENHO

 

 

ESPAÇOS DO DESENHO / DRAWING SPACES

FÁBRICA BRAÇO DE PRATA

RUA DA FABRICA  DO MATERIAL DE GUERRA, Nº1

1950-128 LISBOA

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Olhar em Frente

Hipóteses para a actualidade da observação na prática do desenho

 

 

O desenho de observação tem sido uma das práticas mais comuns na tradição
académica ocidental. Todavia, a sua importância e significado remete a
'observação' para um nível subsidiário da representação, da cópia e das
heranças figurativas legadas pela tradição visual. Por vezes, e de modo
indiferenciado, aplicam-se as expressões 'desenho de observação', 'desenho
de representação' ou 'desenho do natural' e, em línguas estrangeiras, drawing
from life, disegno dall' vero. Como fonte de representações, a prática de
observação vê-se actualmente ultrapassada por meios mais imediatos e
seguros, designadamente todo o arquivo de imagens digitais e disponíveis na
Internet. A facilidade no acesso a diversos tipos de representações e
imagens dispensa o lento processo de observação.

Porém, enquanto o 'desenho de representação', ou 'o desenho do natural'
imprime a sua ênfase na natureza física do mundo exterior, a expressão
'desenho de observação' incide sobre o processo individual de percepção do
mundo, dependente das condições fisiológicas, da subjectividade e do próprio
estado psicológico simultâneo ao registo das imagens.

A valorização dos dados de observação tende a produzir conflito com a
presença sólida e tangível dos objectos, conduzindo à desmaterialização e à
própria abstracção dos seus limites em campos de luz e sombra. Ou seja,
paradoxalmente, o 'desenho de observação' conduz a uma subversão das
representações canónicas e põe em causa o universo figurativo de cada
cultura.

Esboça-se assim uma hipótese segundo a qual, a primeira finalidade do
desenho de observação não é o conhecimento do mundo, mas o auto
conhecimento. Consequentemente, o desenho de observação será o meio para
desmontar as figuras e as representações colectivas que cada sujeito recebe
da cultura, aprofundando o seu processo subjectivo de reconfiguração do
mundo.

 

Paulo Freire de Almeida

Nasceu no Rio de Janeiro em 1968. Finalizou o curso de pintura na Escola de
Belas Artes do Porto em 1994. Dedicou-se à pintura até 1998. Desde então
participou em diversas exposições colectivas com trabalhos na área da
fotografia e imagem digital. Complementarmente, tem publicado textos sobre o
desenho e sobre critica de arte, especialmente na revista PSIAX, editada
pela EAUM, FAUP e FBAUP. Lecciona desenho na Escola de Arquitectura da
Universidade do Minho, em Guimarães desde 1997, onde se doutorou em 2008.

Na investigação académica dedicou-se às diversas aplicações do desenho como instrumento projectual, designadamente na arquitectura. Desde 2005, e na sua investigação de doutoramento, tem aprofundado as condições da observação e percepção no processo gráfico, sublinhando a condição crítica e divergente entre a observação subjectiva e a representação educada das formas.

 

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