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 ANA AFONSO   

 FÁBULAS

 

 

       SALA EA-1.25 ESCOLA DE ARQUITECTURA
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Os trabalhos presentes nesta exposição surgem na continuação de uma linha temática que tenho vindo a desenvolver. O tema «Fábulas» permite-me (teoricamente) explorar e ensaiar sobre a humanidade do outro, ou mesmo, sobre a falta dela - sem que isso seja necessariamente um aspecto negativo. Neste âmbito, as personagens são transeuntes que raramente notam que estão a ser observados, seguem a sua rotina e dão vida a um lugar onde a essência se traduz na aparência.

Com alguma surpresa, encontro estes estudos a par do Zeitgeist[1] actual. E, se por um lado eles ganham assim uma certa legitimidade e compreensão, por outro, temo que sejam confundidos com (mais uma) manifestação de "eye candy" vazia de conteúdo.

 

A génese da minha pesquisa é anterior a esta corrente e intenção fashionable do momento. Embora seja impossível datar os primeiros esboços e o interesse pelo tema, penso que tudo se terá tornado consciente e incontornável em 1999 perante as impressões digitais dos "Manimals" de Daniel Lee em Lisboa.
Posteriormente encontrei paralelismos no trabalho de outros autores (como Patricia Piccinini ou Beth Cavener) para os quais a abordagem artística/teórica ao tema do zoomorfismo é o fio condutor.

 

Definida assim a matriz teórica, a execução prática do desenho obedece à heurística de uma composição morfológica: são as linhas de força (da estrutura que se vai revelando no papel) que ditam o passo seguinte. As personagens nascem de um processo de desenho hedónico e racional que vai esboçando e seleccionando hipóteses de relação de volumes entre corpo, postura, "fisionomia" e composição.

O desenho é o acto pelo qual, alternando entre voyeur e escultora bidimensional vou compreendendo e seleccionando as formas que me permitem edificar e co-habitar temporariamente nestes espaços que nascem de facto.

O meu desenho não concretiza uma imagem mental que "vejo" e quero traduzir. Se eu o visse deveras, em imaginação, e o resultado fosse uma "projecção" do que já conheço, perderia a satisfação da surpresa e da revelação e, nesse momento, deixaria de desenhar. Desenho porque ao fazê-lo me descubro e construo, articulando no suporte parcelas de realidade e intenções que se encaixam, acertam e consertam, seguindo a sua própria (e verdadeira) natureza - …como o escorpião das fábulas.
 

[1] termo alemão cuja tradução significa espírito de época ou espírito do tempo. O Zeitgeist significa, em suma, o nível de avanço intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.
 

Ana Afonso, 1977.

Licenciatura em Artes Plásticas – Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Mestre em Desenho pela FBAUL.
Desenvolve actividade de ilustradora desde 2003.

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